sábado, 3 de setembro de 2016

Além da Linha Vermelha: o mercado nacional de blu-ray está em perigo







Em Algum Lugar do Passado: A origem do blu-ray           

O blu-ray surgiu no Brasil em 12/2007, a partir dos lançamentos de filmes oferecidos pelas distribuidoras multinacionais Buena Vista, Disney, Fox e Warner, mais de 1 ano após a estreia no mercado norte-americano, ocorrida em 06/2006. A produção no país iniciou em 05/2010 pois, antes disso, a fabricação ocorria totalmente no exterior.

Quando o DVD surgiu, a sua adoção pelas famílias foi obrigatória, digamos assim, uma vez que se tratava de uma revolução, uma mudança completa de paradigma: substituição de fitas magnéticas e rebobináveis, facilmente passíveis de deterioração (mofo, mascagem, rompimento...), por discos digitais duráveis e de qualidade técnica bem superior. Além disso, a TV por assinatura e a internet ainda estavam engatinhando, ou seja, não havia concorrência e o VHS estava com os dias contados.


A trajetória do DVD foi mais ascendente que a do blu-ray, tendo surgido no país em 02/1998 e permanecido no mercado de forma paralela ao formato em VHS, até a decadência desse, iniciada em meados de 2002 e atingindo a descontinuação da fabricação em 2006.

A chegada do blu-ray foi menos notada e divulgada, apesar da qualidade bem superior à do DVD. As famílias não se sentiram na obrigação de adquirir um novo aparelho, pois o DVD permaneceu paralelamente à nova tecnologia, com preços mais acessíveis e vendas superiores ao novo formato.

É o que vamos ver, sob vários ângulos, ao longo deste especial criado pelo blog, o qual pretende ser um retrato completo, na medida do possível, sobre o mercado de home video atual no Brasil. Trataremos, especialmente, da queda vertiginosa nos lançamentos em blu-ray e as principais causas dessa constatação.





Cinema Paradiso: As vantagens do blu-ray

O novo formato – o blu-ray - só tem vantagens sobre o DVD. A mais significativa é a grande diferença de qualidade na imagem e no som, ou seja, a alta definição do BD. O salto de qualidade obtido com a substituição do VHS pelo DVD é verificado também com a atualização para blu-ray. São 6 vezes mais nitidez na comparação do BD com o DVD.




A resolução da imagem do blu-ray é de 1920x1080 pixels, enquanto o DVD possui resolução de apenas 720x480 pixels (sistema de cor NTSC) ou 720x526 pixels (sistema de cor PAL). Os contornos das imagens em BD são perfeitos, exatos e nítidos. Em DVD, os contornos são tremidos, borrados ou esfumaçados (efeito fantasma). Muitos DVDs ainda trazem bastante chuvisco ou granulação na imagem, o que não acontece com o BD.

A qualidade do blu-ray também supera a imagem e som da TV por assinatura e serviços de streaming (Netflix, dentre outros).

Os fãs da imagem em 3D também têm no blu-ray um aliado, pois muitos filmes de aventura, ação e animação possuem esse recurso, não encontrado no DVD.

Por sua vez, o som do blu-ray traz bem mais opções que a mídia standard, chegando próximo ao áudio ouvido nas salas de cinema. Em comparação ao DVD, o som do BD é bem mais potente, puro e agradável, especialmente em um home theater.

O blu-ray também possui mais espaço no disco (25 ou 50 GB), útil para não ser necessário comprimir o conteúdo e prejudicar o resultado, como acontece com o DVD (4.7 ou 8.5 GB). Um BD consegue armazenar um filme de até 4 horas sem perda na qualidade.

Essa característica também é importante para o oferecimento de mais extras, embora muitas distribuidoras não aproveitem essa opção com tanta frequência. O oferecimento de extras pelo BD, inclusive, é um diferencial em relação à TV por assinatura e serviços de streaming (Netflix e outros).

Não bastasse, o BD ainda tem a seu favor o fato de que a codificação de restrição de acesso ao conteúdo possui apenas 3 áreas ou regiões: A (América do Norte, América Central, América do Sul, Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Hong Kong e Sudeste da Ásia), B (Europa, Austrália, Nova Zelândia, Oriente Médio e África) e C (China, Rússia, Índia e Ásia Central e do Sul).




Percebe-se, então, que estamos na mesma área dos EUA, Canadá, México, Coreia do Sul, Japão e Hong Kong, motivo pelo qual importar BD desses países não enfrentará o problema da incompatibilidade do player, pois pertencemos à área A.

Diferentemente, o DVD possui 6 regiões principais: 1 (EUA e Canadá), 2 (Europa, Japão, África do Sul, Oriente Médio e Egito), 3 (Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong), 4 (América do Sul, México, América Central, Austrália e Nova Zelândia), 5 (Rússia, Índia e maior parte da África) e 6 (China).

Nesse sentido, um DVD importado dos EUA, Europa ou Japão pode não tocar no Brasil, pois estamos na região 4.

Outro benefício do blu-ray sobre o DVD é que o aparelho de BD também é capaz de tocar DVD e CD, diferentemente do DVD, que não toca BD.





Assim Caminha a Humanidade: O blu-ray nosso de cada dia

O mercado nacional de home video em blu-ray vive uma fase bastante crítica. Há mais de 1 ano, tem sido notada uma queda significativa na quantidade de lançamentos de filmes no formato, embora o ritmo do DVD não tenha sido alterado substancialmente.

Com o intuito de averiguar a veracidade dessa impressão, este blog resolveu analisar a evolução dos lançamentos nos 2 formatos no decorrer do período de 01/01/2014 a 30/06/2016, ou seja, durante 2 anos e meio. O resultado é o que apresentamos a seguir, distribuidora por distribuidora. Por motivos diversos, optamos por não incluir os selos Cultclassic, New Line e Bretz Filmes (antiga VideoFilmes).

A Paramount, a partir de 08/2015, passou a lançar raríssimos filmes em blu-ray. De uma média de 3 a 4 lançamentos no formato, nos meses anteriores, passou a oferecer apenas 1 blu-ray por mês, em média. Em 5 meses, não houve nenhum blu-ray. Mesmo os lançamentos em DVD diminuíram bastante pela distribuidora: de uma média de 10 filmes, passou a oferecer, a partir de 12/2015, uma média de apenas 4 filmes.

A distribuidora Warner lançava uma média de 4 blu-rays por mês, até 09/2015. Depois disso, a média tem sido inferior a 3 mensais. A quantidade média mensal de DVDs também reduziu bastante: de 6 filmes, passou para 3, ou seja, 50%. A tiragem das edições também diminuiu: um exemplo claro é do blu-ray do elogiado filme Interestelar, inicialmente lançado com 2 discos (03/2015 e já esgotado) e relançado em 04/2016 com apenas 1 disco.



A Fox mantinha uma média de 3 a 4 blu-rays por mês até 05/2015. Depois disso, a média baixou para 2 filmes mensais. A média de lançamentos em DVD também caiu: de 5,5 filmes passou para 3,5 por mês.

A distribuidora Sony baixou o ritmo de lançamentos em blu-ray a partir de 03/2015: de uma média de 4,5 filmes por mês, passou a distribuir apenas 1,5 blu-ray. A redução foi tão grande que, em 3 desses meses, não houve a distribuição de nenhum filme em blu-ray pela multinacional. A média de lançamentos em DVD também esfriou: de 8 filmes mensais, a empresa passou a distribuir menos da metade (3,5). Releva dizer que, até agora, a empresa não anunciou nem mesmo o DVD de Filho de Saul, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2016, embora tenha estreado nos cinemas nacionais em 04/02/2016 e sido lançado em blu-ray em vários países, inclusive com legenda em português.





A Universal demorou um pouco a reduzir o volume de lançamentos em blu-ray no Brasil: a partir de 11/2015, passou a distribuir apenas 1,5 filme nesse formato (para se ter uma ideia, em 04/2016, não houve nenhum blu-ray pela empresa). Antes dessa mudança, a empresa distribuía uma média de 6 blu-rays mensalmente. A diferença é drástica, o que se refletiu também nos lançamentos especiais (edições de aniversário, edições diferenciadas, catálogo apenas em blu-ray etc.), na medida em que essas edições frequentes deixaram de ser oferecidas completamente a partir de 09/2015. Além disso, até 02/2015, a distribuidora quase não lançava filmes exclusivamente em DVD, o que passou a ocorrer em volume bem maior (média de 7 por mês), ao ponto de, no mês de 11/2015, ter havido o lançamento de 13 filmes apenas no formato, contra 1 distribuído nas 2 mídias. No caso da distribuidora, excepcionalmente, podemos dizer que houve a migração de um formato para o outro, no lugar de simples diminuição no ritmo dos lançamentos. A situação, de qualquer forma, não deixa de ser preocupante, pois o blu-ray foi relegado a poucas exceções de filmes com maior visibilidade e sucesso de público. Mesmo assim, chama a atenção o fato de que a famosa série de TV Downton Abbey deixou de ser lançada em box de blu-ray com todas as 6 temporadas, para ser oferecida apenas em versão individual da 6ª temporada (2 mídias) ou em 2 edições em DVD (série completa simples e versão com 3 discos extras). Relevante, também, o fato de que o filme Invencível já está com o BD esgotado em praticamente todas as lojas, embora lançado há pouco mais de 1 ano (05/2015).




A Disney teve uma queda acentuada nos lançamentos em blu-ray a partir de 06/2015. De uma média de 3 filmes por mês, a distribuidora passou a oferecer apenas 1. Basta dizer que não houve nenhum lançamento nos meses de 07/2015, 12/2015, 01/2016 e 05/2016, nem mesmo em DVD. Outro exemplo é que A série Once Upon a Time deixou de ser disponibilizada em blu-ray a partir da 5ª temporada, permanecendo apenas o DVD. Além disso, a distribuidora deixou de lançar combos blu-ray 3D+2D a partir de 03/2015 e blu-ray+DVD a contar de 06/2015. O DVD também teve queda na distribuição: de 5 filmes para 2,5 por mês, na média.

A Paris também teve uma redução nos lançamentos em blu-ray, a partir de 09/2015. De uma média de 5 filmes por mês (inclui as edições exclusivas para locadora), a distribuidora passou a oferecer somente 3. Em 12/2015, nenhum blu-ray foi distribuído pela empresa. Por sua vez, a média de DVDs mensais se manteve em 11 filmes (inclusive os lançamentos para locadora), ou seja, não houve uma migração do blu-ray para a mídia standard.

A Playarte também diminuiu a quantidade média mensal de blu-rays, a partir de 12/2015: de 3 filmes, passou a distribuir apenas 2. Não bastasse, nos meses de 10/2014, 11/2014, 12/2014, 01/2015, 03/2015, 04/2015, 05/2015, 12/2015 e 01/2016, não houve o lançamento de nenhum filme, seja em blu-ray ou DVD. A média de lançamentos mensais exclusivamente em DVD reduziu bastante, de 4 para 2,5, a partir de 03/2016. O volume mensal de DVDs continua razoável: 5 filmes, embora tenha reduzido 2 filmes por mês.

A California passou a lançar uma quantidade mensal um pouco menor de blu-rays: no lugar de 5, agora são 3,5 em média, a partir de 02/2016. A média de lançamentos exclusivamente em DVD permanece: 5 filmes por mês. Em todo caso, estão sendo considerados, também, os lançamentos prévios para as locadoras. De um modo geral, então, a distribuidora foi pouco afetada pela crise no mercado de home video, embora tenha diminuído os lançamentos de filmes mais artísticos em blu-ray, a exemplo de Dheepan – O Refúgio (02/2016, Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes de 2015) e Sabor da Vida (03/2016), oferecidos exclusivamente em DVD. Também chama a atenção o fato de que o filme Uma Viagem Extraordinária teve tiragem limitada (2 formatos) e venda do BD apenas pela Submarino e Americanas (06/2015). De forma semelhante, o europeu Segunda Chance teve tiragem limitada (2 formatos) e venda do BD apenas pela Americanas (01/2016). Destino pior tiveram o filme francês Na Próxima Acerto no Coração e o longa dinamarquês Tristeza e Alegria, lançados apenas nos cinemas (08/2015 e 09/2015, respectivamente).




A Versátil tem lançado uma média de 4 DVDs mensalmente, pelo menos desde 01/2014, dentre os quais os raros Vida Cigana e Estamos Todos Bem. Antes disso, presenteou os cinéfilos com DVDs antológicos como Decálogo e Berlin Alexanderplatz. Em blu-ray, os lançamentos são mais escassos pois, durante o mesmo período, foram apenas 7 edições (Solaris, Túmulo dos Vagalumes e Metropolis, dentre outros filmes). A estreia em blu-ray ocorreu em 11/2009, com o filme Cinema Paradiso, chegando a 16 edições até 12/2013. Um grande diferencial da distribuidora, tanto em BD quanto em DVD, é que vários lançamentos vêm em forma de coleções, contendo de 2 a 6 filmes. Além do cuidado com a qualidade da imagem, som e capa, a empresa procura oferecer vários extras e brindes, dentre os quais documentários, curtas-metragens, luvas, cards etc. No meio das pérolas distribuídas pela Versátil, estão 14 coleções (até 09/2016) de 2 a 4 filmes em DVD duplo, intituladas A Arte de... (Tarkóvski, Arthur Penn e John Cassavetes, dentre outros diretores). Em blu-ray, a série Essencial (2 a 4 filmes) possui 4 edições duplas (3 exclusivas da Livraria Cultura e 1 da Saraiva), inclusive 1 prevista para 09/2016 (Fellini). Também se destaca a coleção em DVD O Cinema de..., geralmente de exclusivos com a Cultura ou Saraiva (Kurosawa, Orson Welles e outros). A Coleção Studio Ghibli (até agora, 2) tem sido distribuída em exclusividade com a Cultura e cada volume possui 3 animações em blu-ray ou DVD. Por sua vez, a série Filme Noir já possui 6 volumes (até 09/2016), cada qual com 6 filmes em 3 DVDs. E a lista parece interminável...




Os lançamentos em blu-ray pela Europa Filmes se tornaram escassos a partir de 11/2014. Em média, até o mês anterior, eram 3,5 filmes mensalmente. Contudo, do final de 2014 até 06/2016, foram apenas 7 títulos ao todo, inclusive vários meses sem nenhum disco. Em DVD, a média mensal passou de 7,5 para 4,5, ou seja, uma redução quase pela metade. Nos meses de 02/2015, 03/2015, 09/2015 e 10/2015, não houve a distribuição de nenhum filme em blu-ray ou DVD pela empresa. Até o mês de 01/2015, alguns títulos da empresa saíram pelo selo Vinny Filmes, computados separadamente nesta postagem. Depois do aparecimento da Vinny, em 2010, e mesmo na retomada da utilização do selo Europa, em concomitância ou exclusivamente, a empresa não conseguiu recuperar a quantidade de bons lançamentos que oferecia na década passada. Há alguns anos, os títulos são bem menos expressivos.

A distribuidora Vinny Filmes, conforme já dito anteriormente, foi fundada em 2010, deixando o selo Europa Filmes fora de circulação, em termos de novos lançamentos, por aproximadamente dois anos. Entre 01/2014 e 01/2015, a distribuidora Vinny manteve uma média de 2 filmes em blu-ray por mês. Em DVD, a média era de 5 filmes. A partir de 02/2015, o selo deixou de ser utilizado, permanecendo apenas o da Europa.

A distribuidora Imovision raramente lança blu-ray, desde o início das atividades em home video.  Até agora, são apenas 4 títulos. De qualquer forma, tem mantido a média mensal de lançamentos em DVD, ao longo dos últimos anos: 6,5, sendo geralmente 4 títulos para venda direta e 3 para locadora (quatro meses depois, também são disponibilizados para venda direta). Normalmente, são filmes recentes e premiados em festivais internacionais, especialmente produções europeias.




A Imagem tem lançado uma média de 3 blu-rays por mês e, em todo o período analisado, só distribuiu 9 DVDs que não tenham saído também no outro formato. Não parece ter ocorrido nenhuma mudança na política de distribuição de home video da empresa, pois a média permanece estável e não houve uma migração do blu-ray para o DVD.

A Swen passou a distribuir filmes em home video no Brasil em 04/2007, após já estar firmada no mercado de distribuição para os cinemas, compartilhando da mesma estrutura da Imagem Filmes. Lançou uma média de 1,5 blu-ray por mês, entre 01/2014 e 06/2016, desconsiderados os 17 meses sem nenhum lançamento em nenhum formato para home video. Distribuiu apenas 8 DVDs em todo esse período. Parece que a empresa deixou de atuar na distribuição de home video a partir de 02/2016 (8 meses seguidos até setembro), pois não tem disponibilizado nenhum título desde então, seja em blu-ray ou DVD.

A Lume Filmes nunca lançou nenhum blu-ray, mas sempre disponibilizou no mercado de home video filmes em DVD pouco comerciais, premiados em festivais, inéditos no Brasil, alguns deles raros até no exterior. A empresa oferecia, em média, 4 DVDs por mês, mas deixou de atuar como distribuidora de home video a partir de 11/2014 (excepcionalmente, lançou 1 filme de sua própria produção em DVD no mês de 08/2015). Resolveu retomar a distribuição em home video agora em 07/2016, com o lançamento de 2 DVDs: Outros Cinemas e Vídeo Experimental. Não divulgada previsão para os próximos meses. Em fase de implantação do canal de VOD (video on demand) pela internet, previsto para 09/2016.



A ClassicLine lança blu-rays apenas esporadicamente, pois tem exatos 38 títulos em seu catálogo em HD. Entre 01/2016 e 06/2016, foram 4 filmes na mídia. Por outro lado, vem lançando uma média de 7 DVDs mensalmente. A distribuidora tem se despontado como uma das mais importantes do mercado de home video no Brasil, por trazer obras bem escolhidas, muitas delas inéditas no país. Geralmente, inclui alguns combos e eventuais exclusivos (parcerias com lojas). Destaque para o fato de estar localizada em Fortaleza/CE, fora do grande eixo do Cinema Rio/São Paulo.




A distribuidora Obras-Primas do Cinema só lançou 1 blu-ray até o momento, ainda sob o antigo selo Colecione Clássicos (até 11/2014). Por outro lado, tem buscado fazer um bom trabalho, inclusive optando por versões restauradas e com extras, sempre que possível. Em média, são 3 DVDs mensais. Geralmente, os lançamentos mensais incluem pelo menos 1 coleção dupla ou tripla.

A FlashStar lançava, em média, 3 blu-rays mensais, mas deixou de oferecer esse formato a partir de 02/2015. Não lançou nenhum filme, inclusive em DVD, nos meses de 02/2015 a 04/2015. A média mensal de filmes em DVD aumentou levemente de 5,8 para 6, a partir de 05/2015. A distribuidora tem o mérito de ter lançado o primeiro filme em DVD no Brasil, em 02/1998: Era Uma Vez na América.

A Focus costumava lançar, mensalmente, em torno de 2,5 filmes em blu-ray mas, da mesma forma que a FlashStar, que compartilha da mesma administração (Rio Negro Filmes ou A2 Filmes), o selo deixou de distribuir filmes em blu-ray a partir de 02/2015 (também não houve lançamento em DVD, de 02/2015 a 05/2015). A média em DVD permaneceu em 5 filmes mensais.

Percebe-se, então, que a redução na oferta de blu-rays ocorreu principalmente por parte das majors. De qualquer forma, ainda que o colecionador tenha interesse apenas nos filmes das distribuidoras independentes, essa diminuição não é boa para o mercado de home video como um todo, pois ele fica retraído e com dificuldade de avançar. Distribuidoras que poderiam passar a lançar filmes no formato ou aumentar a participação no mercado ficam receosas de investir.

A recente reformulação na distribuição nacional de home video pelas majors não trouxe benefícios para o consumidor. A partir de 06/2016, os filmes com previsão de lançamento pela Paramount e Universal passaram a ser distribuídos pela Sony; os da Fox agora estão com a Warner; os da Sony saem pela Fox; os filmes da Disney começaram a ser distribuídos pela Cinecolor. Os selos nas capas continuam os anteriores. A distribuição para os cinemas não sofreu nenhuma mudança.

Uma percepção, também, é de que os combos DVD+blu-ray ficaram bastante escassos, especialmente pela Disney, Sony e Warner. Também houve uma redução drástica no lançamento de combos de temporadas de séries em blu-ray (mais de uma temporada em um mesmo box), limitando-se muitos deles apenas ao DVD. Muitas séries de TV têm tido o lançamento descontinuado mesmo em DVD, deixando o cinéfilo com a coleção incompleta.

Mais preocupante ainda é que as tiragens dos lançamentos estão cada vez menores e tem ocorrido um esgotamento muito rápido das edições, ou seja, o interessado é obrigado a adquirir imediatamente o produto, caso não queira ficar na mão.

Também é com pesar que constatamos a baixa produção da distribuidora Europa, com uma diminuição significativa nos lançamentos em DVD e a distribuição de quase nenhum blu-ray há bastante tempo, distribuidora essa que, outrora, lançava uma quantidade razoável de blu-rays, bem como, em DVD, edições especiais duplas e recheadas de extras, coleções temáticas (Hector Babenco, Wim Wenders, Carlos Saura etc.)... Os títulos escolhidos atualmente também são bastante discutíveis.




No final do ano de 2013, a Log On Multimidia, responsável pelo lançamento no Brasil, em blu-ray e DVD, de documentários e séries da BBC e History Channel, deixou o mercado de home video.

O ruim disso tudo é que o oferecimento de poucos lançamentos em blu-ray desestimula o interesse tanto dos atuais colecionadores quanto daqueles que poderiam aderir à mídia em alta definição, na medida em que as opções se tornam cada vez menores.




Afogando em Números: Mais estatísticas desanimadoras

Em se tratando de Brasil, podemos citar que, no decorrer do ano de 2014, foram lançados em mídia física 612 títulos únicos, dos quais 257 edições em blu-ray e 575 em DVD. Ou seja, mais da metade foi lançada apenas em DVD, segundo dados extraídos do relatório confeccionado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Os 2 formatos, naquele ano, segundo o informativo, geraram no país renda bruta de aproximadamente R$149,73 milhões às distribuidoras, dos quais R$27,8 milhões foram relativos ao blu-ray, correspondentes a apenas 18,6% do total da receita. Foram 14,63 milhões de cópias em DVD (88,1%) e 1,97 milhão em blu-ray (11,9%).

Dos títulos em BD no Brasil, naquele ano, os 3 que proporcionaram maior renda foram Star Wars Saga Completa (R$1,73 milhão), Gravidade (R$1,39 milhão) e Rio 2 (R$1,31 milhão). A 3ª temporada da série Game of Thrones gerou uma receita à distribuidora, em 2014, de aproximadamente R$963 mil.



Quando o assunto é o número de cópias vendidas em BD, os 3 títulos principais daquele ano foram os seguintes: Gravidade (28.454 unidades), 300: A Ascensão do Império (26.445) e Rio 2 (24.169). Para se ter uma ideia, a maior venda de DVDs naquele ano correspondeu ao desenho Galinha Pintadinha 4, totalizando 238.104 exemplares (renda de R$4,46 milhões).

Comparativamente, podemos afirmar que a arrecadação com ingressos de cinema gerou uma renda em 2015 no Brasil da ordem de R$2,35 bilhões, fazendo concluir que, no país, o mercado de home video tem uma participação pequena nos lucros dos estúdios e distribuidoras, correspondente a apenas 6,4% dos ingressos.




O Morro dos Ventos Uivantes: Outros indícios do desprestígio do blu-ray

Por ocasião da junção da Videolar e Microservice, prestadoras de serviços às indústrias cinematográfica e fonográfica e distribuidoras de home video, em 01/2013, a Superintendência-Geral do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) afirmou que “as indústrias que atuam no segmento envolvido no negócio possuem alta ociosidade e o mercado está em declínio. A queda da demanda associada à capacidade ociosa das empresas do setor, na verdade, pode acirrar a concorrência”.

No ano seguinte, em 01/05/2014, a multinacional Sony divulgou relatório indicando redução drástica nos lucros relativos ao último ano fiscal (04/2013 a 03/2014), especialmente em decorrência da “profunda queda na demanda por mídias físicas [principalmente o blu-ray e mais ainda no continente europeu], com os usuários preferindo cada vez mais opções de streaming e outros meios digitais de entretenimento.” O problema disso tudo é que a empresa disse que ainda não havia “recuperado o investimento feito no início da década passada [pesquisas tecnológicas e lançamento do blu-ray no mercado], pois a demanda dos consumidores por mídias físicas está caindo bem antes do esperado, gerando um fluxo de dinheiro insuficiente para a recuperação das apostas em longo prazo que foram feitas na tecnologia. E a tendência é que os números, nesse quesito, só piorem.”

Não bastasse, notícia publicada no DCI (Diário Comércio Indústria & Serviços) em 24/08/2016, afirma que, “após crise no varejo, FNAC e Saraiva vão diminuir tamanho de lojas no País, [...] por redução de custos e maior produtividade”, seguindo a tendência do mercado norte-americano.


Soma-se a isso depoimento estarrecedor do Alexx Arimatéia, colecionador de São Paulo, no grupo do Facebook Cine Aliança, em 25/06/2016: “Estou aqui em uma loja da Saraiva e fui perguntar à gerente o porquê dos preços tão baixos dos BDs e fui informado de que a Saraiva está realmente zerando os seus estoques de blu-rays pois, a partir do próximo semestre, pretende diminuir ao máximo a venda das mídias, pois não está havendo lucro de vendas. E, por esse motivo, só irá comercializar DVDs.”

Embora a gente perceba que a loja virtual da Saraiva continua a incrementar o acervo de blu-rays com títulos em pré-venda, inclusive para 09/2016, é perceptível a redução do estoque, inclusive com uma queima promocional sem precedentes, no início do mês de 07/2016, com centenas de títulos a preços bem acessíveis. Também é notada uma diminuição do espaço físico da rede dedicado aos filmes, mesmo em relação aos DVDs.

Um perigo seria termos apenas alguns filmes blockbusters sendo lançados em BD ou vendidos pela empresa, o que, por enquanto, não é fato. Por exemplo, estavam ou estão previstos na loja virtual os blu-rays de Brooklin (17/08/2016, Paris Filmes), A Vingança Está na Moda (30/08/2016, Imagem), Asterix e o Domínio dos Deuses (30/08/2016, Imagem) e Fellini Essencial (exclusivo da rede, pela Versátil, para 19/09/2016).







Minha Vida de Cachorro: O DVD como única alternativa nacional

Exemplos de filmes ou séries lançados no Brasil apenas em DVD não faltam. É o que podemos verificar nos quadros abaixo, em amostra não exaustiva apenas a partir de 04/2015 (exceção a 1 filme), organizada por distribuidora. As empresas não têm perdoado nem mesmo vencedor do Oscar de Melhor Filme ou séries que já vinham sendo lançadas em BD.


UNIVERSAL
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Mr. Selfridge – 1ª temporada
07/2015

Effie Gray – Uma Paixão Reprimida
04/2016

Mr. Robot – 1ª temporada
05/2016

As Sufragistas
05/2016

Downton Abbey – 6ª temporada
06/2016
Tiragem baixa (blu-ray e DVD), já esgotada em algumas lojas; combo com as 6 temporadas apenas em DVD e combo com 3 discos extras também apenas em DVD.

FOX
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Vikings: box com as 3 temporadas
12/2015

Longe Deste Insensato Mundo
10/2015
Distribuição irregular (disponível apenas em 1 revendedora para locadora)

WARNER
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
True Detective – 2ª temporada
06/2016
Divulgada a edição em BD (inclusive do combo com a 1ª temporada), mas não lançada.

DISNEY
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
12 Anos de Escravidão
05/2014
Oscar e Globo de Ouro de Melhor Filme de 2014.

PARIS
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Sicario – Terra de Ninguém
05/2016


PARAMOUNT
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Suíte Francesa
04/2016

Anomalisa
06/2016

13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi
07/2016


IMOVISION
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Leviatã
08/2015
Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 e Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2014.

CALIFORNIA
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Uma Viagem para Itália
12/2015

Dheepan – O Refúgio
02/2016
Palma de Ouro de Melhor Filme em Cannes 2015.






SONY
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
House of Cards – 3ª temporada
07/2015
Nenhuma temporada em BD.
Juventudes Roubadas
11/2015

Outlander – 1ª temporada
01/2016

Quarto de Guerra
02/2016

Sr. Sherlock Holmes
01/2016
Distribuição irregular (disponível apenas em 1 revendedora para locadora)

BRETZ
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
O Menino e o Mundo
03/2016
Concorreu ao Oscar de Melhor Animação em 2016.

EUROPA
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Era Uma Vez em Nova York
04/2015
BD somente para locadora.
Metanóia
08/2015

Os Filhos da Guerra
11/2015


VERSÁTIL
TÍTULO
LANÇAMENTO
OBSERVAÇÃO
Estamos Todos Bem
04/2015
Não disponível em BD em nenhum país.
Vida Cigana
06/2015
Não disponível em BD em nenhum país.



A situação parece estar crítica até mesmo para o mercado de DVD, ao ponto de a distribuidora Continental e suas várias ramificações (Cinemax, Magna Film, Magnus Opus, Paragon, Signature, Silver Screen, Vintage e outras) ter deixado de lançar blu-rays e DVDs a partir de 01/2016. A única exceção tem sido alguns títulos esporádicos pelo selo CultClassic, em edições bem questionáveis.

No primeiro semestre de 2012, assistimos à interrupção na distribuição de DVDs pela Platina Filmes. Antes disso, a Casablanca Filmes já havia abandonado a atividade e direcionado o seu foco para outras áreas do mercado de home video e comunicação em geral.

Por outro lado, a partir de 06/2016, o mercado de DVDs passou a contar com a distribuidora Mares Filmes (2 filmes por mês), que já atuava na distribuição de filmes para cinema. Por enquanto, não lançou nenhum blu-ray.




O Fabuloso Destino de Amélie Poulain: A saga dos filmes de arte

Depois da grande dificuldade de passar pelo filtro da exibição nos cinemas do país, uma vez que boa parte da produção mundial independente não chega ao circuito nacional, é a vez da inserção no mercado de home video. E as estatísticas não são estimulantes: a maioria não é lançada em blu-ray e muitos nem em DVD (exemplos relatados em tópico anterior).

Dos 30 filmes de arte com maior bilheteria exibidos no Brasil entre 2011 e 2013, apenas 22 tiveram edição em blu-ray, mesmo em se tratando de obras com mais de 100 ou 200.000 expectadores. Filmes com público menor têm menos chances ainda de chegar ao entretenimento doméstico.

A título exemplificativo, podemos citar, dentre os que saíram apenas em DVD: 1) Amor (França, 2012), dirigido pelo austríaco Michael Haneke, distribuído pela Imovision, teve público de 222.796 pessoas e renda de R$2.650.395,00; 2) A Separação (Irã, 2011), dirigido pelo iraniano Asghar Farhadi, distribuído pela Imovision, teve público de 175.949 pessoas e renda de R$1.981.888,30; 3) Hannah Arendt – Ideias Que Chocaram o Mundo (Alemanha, 2012), distribuído pela Esfera/Europa, teve público de 138.463 pessoas e renda de R$1.689.326,67; 4) Cópia Fiel (Irã, 2010), distribuído pela Imovision, teve público de 112.336 pessoas e renda de R$1.228.890,20.







Procurando Nemo: O sumiço dos aparelhos de blu-ray
                                                                                                   
Igualmente, no Brasil, é nítida a escassez também de aparelhos de blu-ray dedicados, ou seja, aqueles desvinculados de home theater ou outro eletrônico.

Em pesquisa realizada por este blog no decorrer do último mês de julho, constatamos o seguinte, em análise dos sites das lojas virtuais de produtos eletrônicos mais conceituadas: das 12 lojas visitadas, apenas a Americanas/Submarino (as 2 compartilham do mesmo estoque), Ponto Frio/Extra/Casas Bahia (as 3 compartilham do mesmo estoque) e Shoptime oferecem aparelhos dedicados.

O modelo BD-F5500/ZD (Samsung), lançado no Brasil em 04/2013, é encontrado nas lojas Americanas/Submarino e Shoptime.

Por sua vez, o modelo BDP-S6500 (Sony), importado lançado no 2º semestre de 2015, é localizado nas lojas Americanas/Submarino e Ponto Frio/Extra/Casas Bahia.

Já o modelo BP440 (LG), lançado no Brasil no máximo em 07/2014, encontra-se disponível no Ponto Frio/Extra/Casas Bahia, Americanas/Submarino e Shoptime.



Os demais modelos dedicados são importados com preços semelhantes ou bem superiores aos dos home theaters, bem como o nacional BD-S677 (Yamaha), de custo semelhante. Ou seja, seria preferível adquirir o equipamento completo, exceto pelo fato de que alguns deles vêm desbloqueados (sem limitação na codificação por área ou região), tanto em relação aos discos de DVD quanto de blu-ray.

Fora isso, todos os demais blu-ray players estão integrados a home theaters, PlayStation ou X-Box One.

Dentre os home theaters com blu-ray player, são encontrados 16 modelos relevantes de marcas de ponta.

Por outro lado, as lojas mais conhecidas possuem 12 aparelhos de DVD de marcas de ponta desvinculados de outro eletrônico. Estranhamente, mesmo em termos de aparelhos de DVD, 3 lojas não têm nenhum modelo à venda, desvinculado de home theater ou outro eletrônico, e outras 2 lojas oferecem apenas 1 modelo.






Era Uma Vez na América: O mercado de home video estrangeiro

Nos Estados Unidos, poucos são os filmes lançados em DVD sem a correspondente edição em blu-ray. Além disso, a maioria absoluta dos lançamentos no cinema chega ao home video.





O mesmo podemos dizer do mercado europeu, especialmente do Reino Unido, França e Alemanha (maior mercado de home video europeu). Num nível um pouco menor, estão a Espanha e Itália (4º maior mercado de home video europeu), que sempre lançaram alguns bons filmes apenas em DVD, independentemente da crise econômica dos últimos anos.

Apesar de todos os méritos do mercado de home video do Reino Unido, as vendas da mídia física têm desapontado nos últimos tempos, sem que o consumo do vídeo digital consiga compensar a redução.

Segundo a empresa Future Source Consulting, a mídia física também tem sofrido considerável queda nas vendas na França, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suécia, Polônia, Bélgica, Espanha, Holanda e México, dentre outros. Por sua vez, o consumidor do Canadá tem um nível de compra de blu-rays bastante considerável, proporcionalmente.

Na Alemanha, apesar do declínio nas vendas, o blu-ray e DVD continuam representando a mais significativa fatia do mercado de home video, correspondente a 70% do faturamento.

O Japão (segundo maior mercado de home video do mundo, totalizando US$2,145 bilhões em 2015), pra variar, continua lançando bastantes edições em blu-ray, inclusive coleções, mesmo com preços bem acima dos praticados no Brasil e resto do mundo, compatível com o padrão de vida da população local. Paralelamente, o mercado de vídeo online cresce bastante.




Segundo relatório divulgado em 03/2016 pela Associação Comercial de Softwares e Vídeo do Japão (JVA), as vendas de blu-rays e DVDs em 2015 tiveram uma redução de 5,1% em relação ao ano anterior. O mercado japonês está em declínio há 11 anos, iniciado logo após o ápice das vendas em 2004, quando a receita chegou a US$3,676 bilhões (42% de diferença).

De qualquer forma, uma boa notícia: as vendas de blu-rays no país nipônico aumentaram em 1,9% de 2014 para 2015, com uma arrecadação de US$917 milhões. Por outro lado, o mercado de DVDs teve uma queda de 9,8% em relação ao mesmo período, com uma receita de US$1,228 bilhão. Nota-se que a diferença de receita entre os 2 formatos é bem inferior à verificada no Brasil.

O mercado de home video argentino, entretanto, nunca foi expressivo. A maioria dos filmes sempre foi lançada apenas em DVD. Mesmo filmes de ponta recentes, como Mad Max: Estrada da Fúria, Steve Jobs, Perdido em Marte, Ponte dos Espiões, Zootopia, Velozes e Furiosos 7 e Interestelar, não foram ou não estão sendo disponibilizados em blu-ray, diferentemente do Brasil.

Por sua vez, a Austrália sempre teve um mercado mais limitado que o norte-americano e europeu, principalmente em relação aos filmes independentes. De qualquer forma, este blog não notou nenhuma redução na distribuição nos últimos anos. Aliás, as temporadas de séries de TV (Downton Abbey e True Detective, dentre outras) continuam sendo lançadas tanto em edição avulsa quanto em combo com as anteriores, seja em blu-ray ou DVD. Também a título de exemplo, os filmes 12 Anos de Escravidão e Sicario – Terra de Ninguém foram lançados nas 2 mídias.
                                      


Quanto aos aparelhos, não é diferente. Para se ter uma ideia, o Walmart USA oferece apenas 75 modelos diferentes de blu-ray players de marcas de ponta desvinculados de home theater. Estão desconsideradas, portanto, as dezenas de modelos de marcas menos atraentes ou desconhecidas do consumidor brasileiro.

De forma semelhante, a FNAC espanhola apresenta para venda 73 modelos diferentes, incluídos aqueles oferecidos por sellers independentes.

Na Amazon Japão, foram encontrados 42 modelos diferentes, excluídos aqueles com preços bem mais elevados que a média, vários dos quais com região livre para BD.

Mesmo assim, as vendas mundiais de aparelhos de blu-ray e DVD diminuíram 20% no ano de 2015, sendo 16% de redução para o 1º e 23% para o 2º. Foram comprados no período 48,5 milhões de players.

O mercado mundial de BD, então, apesar das quedas constantes das vendas, ainda tem bastante fôlego, embora a produção de DVDs seja bem superior e a tiragem de home video tenha diminuído.

Como alívio, podemos citar que, nos 9 primeiros meses de 2015, a multinacional francesa Technicolor (mais detalhes abaixo) manufaturou 660,9 milhões de DVDs e 172,3 milhões de blu-rays.

Em relatório publicado pela Entertainment Merchants Association (Associação dos Empresários de Entretenimento), neste ano de 2016, a respeito da indústria do entretenimento doméstico, e divulgado pela revista norte-americana Home Media Magazine, o presidente da entidade demonstra que o mercado de blu-rays e DVDs não está morto nem prestes a morrer. Tal associação congrega mais de mil lojistas, distribuidoras, divisões de home video dos estúdios de cinema, dentre outros envolvidos no negócio.

Pelo contrário, diz o documento, “ele permanece um significante e importante segmento da nossa indústria em evolução. [...] Os gastos com aluguel e compra contabilizaram pouco mais da metade de todo o mercado de home video em 2015 e é esperado que ainda represente 30% do mercado em 2019.”

“Tanto os gastos com aluguel quanto os de compra de discos excedem àqueles com produtos equivalentes digitais. Os discos contribuem de forma significativa para o orçamento dos estúdios, pois as vendas e aluguel dos discos proporcionam quase o mesmo lucro que os ingressos de cinema. Eles continuam a ser uma parte essencial da economia da indústria cinematográfica.”

A associação também conclui que o recente advento do UHD blu-ray irá aumentar ainda mais a expectativa de vida da mídia física no mercado. Além disso, lembra que muitos consumidores digitais também adquirem produtos físicos de home video.

O relatório também traz a informação de que 53% dos lares norte-americanos possuem TV conectada à internet e 2,8 milhões já possuem TV 4K (dados até 31/03/2016). Com base em outra fonte, estima-se que, somente nos EUA, 13 milhões de TVs 4K sejam vendidas no decorrer deste ano de 2016.

Segundo a revista Home Media Magazine, em edição de 09/2015, mais de 72 milhões de lares norte-americanos possuem aparelho de blu-ray. Numa retrospectiva, podemos afirmar que, desde o lançamento em 06/2006 até 06/2016, foram vendidos nos EUA 750 milhões de blu-rays (discos), tendo ultrapassado os US$15 bilhões de receita. Comparativamente, “os 100 títulos mais vendidos nos EUA em 2015 somaram mais de 140 milhões de discos vendidos”, dos quais 60,31 milhões de blu-rays (43%), conforme análise do quadro demonstrativo disponibilizado pelo site www.the-numbers.com.

Nesse mesmo período de 10 anos, foram 139 títulos que superaram, individualmente, a barreira de 1 milhão de cópias em BD, somente nos EUA. As vendas de discos em blu-ray nos primeiros 3 meses de 2016, nos EUA, subiram 3% em relação ao mesmo período de 2015.

Os 2 maiores sucessos de venda direta de BD nos EUA são: Frozen (mais de 7,134 milhões de unidades, totalizando US$154,31 milhões, contra US$401 milhões de bilheteria nos cinemas daquele país) e Avatar (vendas iniciais de mais de 1,5 milhão de cópias, chegando atualmente a 7,099 milhões de cópias, no valor total de US$174,48 milhões, contra US$761 milhões de bilheteria nos cinemas norte-americanos). Da lista de top 10 de 06/2016, apenas 1 filme teve maior saída em DVD do que em blu-ray e, mesmo assim, com diferença de apenas 3%. Somente nos EUA, são mais de 12.000 títulos únicos em BD, contra 7.500 opções de filmes por streaming na Netflix.




Para se ter uma ideia, as vendas de blu-rays nos EUA, na semana de 07 a 13/08/2016, chegaram a 1,01 milhão (16,38%) de discos, com arrecadação de US$17,75 milhões (27%).

Por sua vez, as vendas de DVDs, durante a mesma semana, totalizaram 5,13 milhões (83,62%), correspondentes a US$47,8 milhões (73%).

Numa preliminar de 2016 (até agosto), pode-se afirmar que 6 filmes já ultrapassaram a barreira de 1 milhão de blu-rays vendidos nos EUA e outros 8 passaram de 500 mil. É provável que até o final do ano mais de 20 filmes cheguem além de 1 milhão de cópias no formato, passando os 19 títulos de 2015.

Tem razão o editor daquela revista, em edição de 12/2015, quando diz que: “Tenha em mente que a venda direta de blu-ray e DVD é ainda um grande, grande negócio. Não é tão grande quanto há uma década atrás, ou mesmo há 5 anos, mas, se tivermos uma visão holística do entretenimento doméstico, a gente vai ver que a soma de dólares gasta permanece marcante ao longo dos anos, mesmo com a proliferação de novas tecnologias, serviços online e dispositivos...”

Recente pesquisa realizada pela empresa britânica Futuresource Consulting constatou que, especialmente nos EUA e Reino Unido, apenas 4% dos entrevistados passaram a consumir somente video digital. Os demais 96% transitam entre o video online e a mídia física, ou seja, não desistiram de adquirir blu-rays e DVDs.



Das mais de 16.000 pessoas que responderam à pesquisa global, apenas 16% disseram que compram conteúdo digital, sendo que o acesso antecipado é o motivo principal para essa escolha para praticamente a metade desse grupo (7,68% dos entrevistados), em comparação à mídia física.

Outra pesquisa, efetuada em março e abril deste ano de 2016 pela empresa global norte-americana GfK, com 1.009 consumidores, e divulgada pela revista Home Media Magazine, concluiu que 46% já compraram ou alugaram um filme digital, mas a maioria continua a valorizar o DVD e blu-ray, devido aos extras oferecidos, tais como a versão do diretor (director’s cut), comentários em áudio e outros conteúdos tipicamente não encontrados na mídia digital.

Embora 40% dos entrevistados tenham respondido que já adquiriram mídia física com cópia digital incluída, 66% deles nunca ativaram o conteúdo, por falta de necessidade ou interesse. Entre 10 e 12% dos consumidores da mídia digital disseram ter essa preferência pela facilidade de assistir a qualquer hora em qualquer lugar.




Quem Tem Medo de Virginia Woolf?: A importação como opção inviável

Uma saída para a retração do mercado brasileiro de blu-rays poderia ser a importação particular de produtos produzidos no exterior.

Ocorre que vários fatores dificultam a concretização dessa ação. O primeiro deles é a zona de destinação do produto, chamada de área ou região. Conforme este blog já afirmou em capítulo anterior desta análise, o Brasil está localizado na área A, o que é uma vantagem pois, assim, pode ter acesso às edições lançadas nos EUA, Japão, Coreia do Sul e Hong Kong (cuidado com versões mutiladas dos 2 últimos países!).

Por outro lado, poderíamos não conseguir assistir aos filmes importados da Europa, Austrália e Rússia, uma vez que os dois primeiros estão na área B e o último na C, embora muitos produtos tenham região livre. Adquirir um aparelho desbloqueado para acessar todas as regiões custaria a bagatela de R$4.600,00, no mínimo.

Acaso superada a limitação da codificação dos filmes, outro fator precisa ser enfrentado, a língua do áudio ou legenda.

De um modo geral, os filmes de grande sucesso internacional de público, geralmente produzidos pelas majors de Hollywood – super-heróis, estrelas famosas e diretores consagrados -, possuem legenda em português e, eventualmente, também dublagem no nosso idioma.

Por sua vez, os filmes badalados em festivais internacionais e apreciados por um público mais restrito, normalmente de procedência europeia e asiática e independentes, apresentam legenda apenas na língua do país de distribuição e o áudio costuma ser exclusivamente o original e, no máximo, com dublagem na língua do país de lançamento. Legendagem e dublagem encarecem o custo do produto.

Embora o cinema seja uma linguagem universal e as imagens e sons de ambiente digam muita coisa, mesmo sem palavras, contemplar um filme em sua totalidade é bem melhor.

Utilizar legendas disponíveis na internet pode minimizar o problema, mas a qualidade parece não ser a mesma e os procedimentos envolvidos nem sempre são de conhecimento público.

Mantido o interesse no blu-ray estrangeiro, o novo problema que surge é a cotação do dólar (ou moeda do país de origem do produto).




Apesar de a moeda brasileira ter se valorizado nos últimos meses, frente ao dólar, com redução da cotação da moeda norte-americana em mais de 4 reais para 3,20, o preço do produto ainda se mantém elevado, até mesmo porque os valores são definidos com base num padrão econômico bem superior ao nosso. (saudade do dólar entre 1 e 2 reais)

Além disso, deve ser acrescentado ao preço do blu-ray o valor do frete. Ainda que se escolha o mais acessível, a conversão em real já encarece o produto. Não bastasse, muitas lojas costumam oferecer apenas frete por courier, como a Amazon USA, FNAC europeia e outras, o que prejudica ainda mais o bolso do consumidor brasileiro, pois os valores são bem mais elevados.

Antes de chegar às nossas mãos, o blu-ray importado ainda pode ser importunado com outra dor de cabeça: os impostos e taxas.

Caso a encomenda não seja liberada por amostragem, na chegada ao Brasil, o comprador é responsável pelo pagamento do imposto de importação (60% sobre o valor total do produto, inclusive frete e ICMS), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS, variável por Estado, entre 17 e 19%), Taxa para Despacho Postal (R$12,00, cobrados pelos Correios) e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF, de 6,38% sobre o valor descontado na fatura do cartão de crédito).




Como se não fosse suficiente, algumas lojas virtuais estrangeiras, notadamente a Amazon USA, costumam recolher antecipadamente os impostos, no caso de compra diretamente da loja. Apenas na hipótese de compra de algum seller independente (marketplace) é que o cliente é liberado do pagamento imediato dos impostos do país de destino.

Não se pode esquecer, de qualquer forma, que a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais já estabeleceu qual a melhor interpretação para a legislação que cuida da importação de mercadorias do exterior por pessoa física, tendo definido que as encomendas de até US$100.00 (cem dólares) são isentas do imposto de importação, mesmo que o remetente seja pessoa jurídica (empresa). Tal decisão, proferida no processo PEDILEF nº 5027788-92.2014.4.04.7200, tem abrangência em todo o país e, caso haja a tributação pela Receita Federal, o interessado pode ingressar com ação no Juizado da própria cidade ou região e requerer a restituição do valor pago. A remessa precisa ser realizada pelo correio nacional, não sendo aplicável a regra ao transporte por courier. Maiores detalhes podem ser acessados neste blog, mediante busca pela expressão “imposto de importação”.




Uma Cilada para Roger Rabbit: O homem é o lobo do homem


Não faltam responsáveis pela situação em que o mercado nacional de home video se encontra, especialmente em se tratando de  blu-ray.

Um dos fatores para o blu-ray não ter deslanchado no Brasil é o contentamento do consumidor médio com o DVD, muitas vezes por falta de conhecimento ou experiência. A maioria nunca viu um filme em blu-ray, nem teve curiosidade de comparar a qualidade dos 2 formatos.

Outro fator que tem prejudicado o mercado é a pirataria generalizada, tanto em mídia física quanto virtual (80% dos internautas brasileiros, segundo pesquisa do IBOPE realizada em 06/2016, sendo 70% dos downloads realizados a partir de um PC/notebook). Falta fiscalização governamental sobre a atividade ilegal, há grande evasão de impostos e a maioria dos usuários não se importa com a situação de ilegalidade e com as suas consequências desastrosas para o país e para o próprio consumidor (diminuição da oferta).

Sabe-se que um disco pirata em BD ou DVD pode deixar de ser lido pelo aparelho em 10 ou 20 anos. Por sua vez, um disco produzido com tecnologia industrial e de forma legal pode durar mais de 100 anos, sem perda do conteúdo.

Uma consequência direta da pirataria, inclusive, foi o fechamento da maioria das videolocadoras do país, o que reduziu ainda mais a demanda por mídia física, seja em blu-ray ou DVD. Em 2014, as cópias vendidas nos 2 formatos às locadoras representaram 7,4% do volume total, ou seja, 1.231.841 edições, ocasionando uma renda às distribuidoras de R$43.897.078,38 (29,3%), de acordo com o relatório publicado pela Ancine.



O aparecimento (e crescimento) dos serviços de streaming (Netflix, especialmente, com seus preços bastante competitivos e catálogo invejável) e video on demand (VOD) também é causador da baixa procura pelo blu-ray (e DVD). No Brasil, de acordo com pesquisa efetuada pelo IBOPE a 1.004 entrevistados, em 05/2016, “49% assistem, no mínimo, semanalmente, a filmes e programas de TV” desses serviços.

De qualquer forma, segundo outra pesquisa realizada no final de 2014 pelo IBOPE, mediante entrevista a 18.541 pessoas de 13 representativas cidades do Brasil, “86% dos internautas que costuma assistir a vídeos pela internet utilizam apenas serviços gratuitos.”

Os dispositivos móveis também passaram a ser grandes concorrentes da mídia física, especialmente o smartphone, na medida em que o grande público do cinema tem buscado o imediatismo e o passageiro. Quanto mais filmes melhor e a qualquer momento, mesmo que em imagem minúscula.

A própria TV por assinatura (18% dos domicílios brasileiros em 2010 e 47% em 2015), que também é concorrente da mídia física, teve diminuição na clientela no decorrer de 2015 na ordem de 800.000 assinaturas.

O mercado fonográfico nacional segue semelhante caminho ao do vídeo digital: a música digital paga (iTunes, Spotify e outros serviços) já corresponde a 61% da receita com música gravada, contra 39% da mídia física, segundo relatório do IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), relativo ao ano de 2015, disponibilizado pela ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos).

A necessidade de uma TV de alta definição também dificulta o crescimento do mercado de blu-ray, pois os anos de crise econômica têm afastado o consumidor da compra de eletrônicos, ao ponto de ter ocorrido uma queda de 28% nas vendas de televisores, no primeiro trimestre deste ano de 2016, em relação ao mesmo período do ano anterior (menor nível em 5 anos, correspondente ao total de 9,5 milhões de aparelhos), embora 50% das vendas se refiram à HDTV, conforme relatório divulgado pela Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos).







O custo elevado da produção do blu-ray, da mesma forma, influencia na baixa adesão do consumidor ao formato. Isso engloba, dentre outros, 1) direitos autorais, entre 500 e US$15,000.00, no caso das distribuidoras independentes; 2) a CONDECINE (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), paga à Ancine, no valor de R$3.000,00 por título de filme, sendo que, no caso de séries, o pagamento é por episódio, no valor de R$750,00, nos termos da Portaria Interministerial nº 835/2015, publicada na Seção I do DOU de 15/10/2013; 3) os registros nas agências ISAN (International Standard Audiovisual Number) e AACS (Advanced Acess Content System), entidades responsáeis pela identificação internacional das edições e controle antipirataria; 4) a produção propriamente dita (da pré-masterização ao transporte para os centros de consumo, passando pela replicação de cada cópia e levando em conta o preço da mídia virgem, superior em 3 vezes o do DVD, e a tiragem mínima obrigatória de 1.000 unidades por edição).



Segundo declaração do Fernando Brito, curador da distribuidora independente Versátil, em recente entrevista concedida ao jornalista Hamilton Rosa Jr. (revista virtual Move), “o custo do DVD hoje é três vezes mais barato do que o blu-ray. [...] Só existem duas empresas que detêm o domínio da tecnologia no mundo e, com esse monopólio, ficou muito difícil de criar parcerias dentro do mercado brasileiro. Você até cria a matriz do disco aqui, mas o stamper (que é a impressão da matriz) precisa ser feito lá fora, por isso o processo se torna caro.”

De fato, as 3 únicas empresas nacionais que produzem blu-ray, AMZ Mídia Industrial (fusão da Videolar e Microservice), Sonopress Rimo (atual Rimo Entertainment) e Sony DADC Brasil, realizam apenas a pré-masterização, replicação, acabamento dos produtos (embalagens e encartes) e distribuição (transporte). Isso porque a masterização do BD é terceirizada para empresas estrangeiras, diferentemente do DVD e CD, que são inteiramente produzidos no Brasil.



No mundo, há 4 grupos empresariais que, dentre outras etapas, oferecem o serviço de criação do stamper para blu-ray. São eles: 1) Technicolor SA (matriz em Paris, na França, com presença em 28 países), a maior e mais antiga de todas, com mais de 100 anos de tradição cinematográfica; 2) Sony DADC (Sony Digital Audio Disc Corp., cuja matriz está localizada na cidade de Anif/Áustria, com filiais que também possuem o maquinário para a fabricação do stamper em Indiana/EUA, Sydney/Austrália, Tuen/Mun/Hong Kong e Navi Mumbai/Índia); 3) Arvato Entertainment (antiga Sonopress GmbH, com sede em Gütersloh/Alemanha e filiais em Paris/França, Birmingham/UK e Carolina do Norte/EUA); 4) Opticon Group, com matriz em Tripolis, na Grécia.

Sendo o custo elevado, especialmente nos mercados dependentes da terceirização (a maioria absoluta), o preço final do BD acaba sendo alto, inclusive por conta da baixa tiragem de muitos lançamentos. Aliás, grande parte dos lançamentos costuma ser oferecida por preços iniciais bem excessivos e demora a baixar de valor, o que afasta o público consumidor. As distribuidoras preferem reduzir a tiragem a diminuir o preço inicial dos produtos ou a média de lucro, o que acaba obrigando o colecionador a adquirir o produto logo no lançamento, sob o risco de não encontrar mais o blu-ray ou DVD.

Podemos dizer que o blu-ray dos filmes e série seguintes exemplificam bem a disparidade entre os preços praticados no lançamento no Brasil e EUA, entre 07/2016 e 09/2016: 1) O Quarto de Jack – R$69,90 (BR) contra R$52,01 (USA); 2) Arquivo X – 10ª temporada – The Event Series – 3 discos – R$99,90 (BR) contra R$65,15 (USA); 3) Brooklin – R$59,90 (BR) contra R$48,93 (USA); 4) X-Men Apocalipse 3D+2D – R$89,90 (BR) contra R$65,25 USA). Não seria nem preciso mencionar que o salário mínimo mensal norte-americano (R$4.102,00) é bem superior ao brasileiro (R$880,00) e proporciona, portanto, um poder de compra fortemente melhor.          






A crise econômica mundial dos últimos anos, que permanece no Brasil, é outro item que interfere diretamente na baixa procura pelo blu-ray (ou mesmo DVD), em função do desemprego e elevação da inflação e outras prioridades das famílias. Somente de 01/08/2015 a 31/07/2016, mais de 1 milhão e 700 mil trabalhadores no país foram demitidos, sem reposição das vagas.

Em pesquisa realizada pelo IBOPE com 2.002 consumidores brasileiros, no mês de janeiro deste ao de 2016, 61% disseram que já haviam alterado ou pretendiam alterar o hábito de consumo, especialmente com redução do lazer (41%). Em outra pesquisa ainda mais recente, de 06/2016, o instituto constatou que “67% encontram dificuldades para pagar as contas”.

O fato de não haver divulgação do blu-ray na maioria dos meios de comunicação também é um complicador pois, até hoje, é um formato pouco conhecido no Brasil. Praticamente, apenas a internet traz informações sobre o BD e em sites bem específicos.

Essa problemática toda impede, inclusive, a chegada ao Brasil do 4K Ultra HD Blu-ray Disc (resolução de 3840 x 2160, corresponde a 4 vezes a do blu-ray em full HD). O primeiro player de 4K chegou aos EUA em 01/03/2016, mesma data de lançamento dos primeiros títulos na mídia física. Contudo, nosso país ainda não possui nenhum modelo produzido aqui. Mesmo assim, as multinacionais instaladas no Brasil têm feito propaganda maciça da TV 4K, visando ao conteúdo online (Netflix, internet), embora a oferta de conteúdo com ultra alta definição no país ainda seja bastante limitada (a Netflix, por exemplo, tem algumas poucas séries e documentários).





A Liberdade é Azul: O blu-ray que todo cinéfilo deseja

Interesse pelo cinema no Brasil existe, pois o público no país cresceu 11,1% de 2014 para 2015, computando 172,9 milhões de pessoas, o maior crescimento nacional dos últimos 5 anos. Além disso, houve um acréscimo de 304 salas de cinema de um ano para o outro.

Porém, essa efervescência não é sentida no mercado de blu-ray ou mesmo de DVD, conforme visto no decorrer desta postagem.

De qualquer forma, ironicamente, a má qualidade da internet no Brasil, caracterizada pela lentidão, travamento, instabilidade, velocidade média entregue bastante baixa e altos preços, é uma auxiliar à manutenção da mídia física, pois compromete o acesso adequado aos vídeos em streaming. A tecnologia wi-fi, no Brasil, de igual maneira, também possui desempenho bastante criticável.

A eventual limitação de pacotes de dados à internet fixa também exerceria esse papel, considerando que encareceria ainda mais o serviço de banda larga.

A qualidade da imagem do streaming pode ser comparada à impressão de uma imagem em modo rascunho ou normal, no lugar do modo foto proporcionado pelo blu-ray.

Soma-se a isso o fato de que os filmes oferecidos por streaming são retirados de catálogo de tempos em tempos, seja em plataformas legais (contratos de licenciamento por tempo limitado) ou piratas (fiscalização ou pane no sistema), o que deixa o consumidor na mão, podendo ficar sem outra opção.

Então, uma forma de melhorar o mercado nacional de BD seria o oferecimento, como padrão ou regra, de uma cópia digital inclusa, conforme ocorre com muita frequência no exterior, principalmente nos EUA. Seria uma maneira de conciliar os meios, no lugar de acirrar a disputa.

Conteúdo adicional (extras) como prática mais frequente também seria um diferencial em relação às demais formas de acesso aos filmes.

Outra estratégia para o incremento do mercado seriam as parcerias de exclusividade entre distribuidoras e lojas, o que vem trazendo bons resultados à distribuidora independente Versátil, inclusive possibilitando o lançamento de obras que não teriam outra oportunidade.





A empresa, igualmente, vem obtendo bastante adesão às edições temáticas que vem distribuindo: são coleções organizadas por diretor, gênero cinematográfico, nacionalidade e ator/atriz.

Outro exemplo proveniente da distribuidora é a grande interação com o público, especialmente por intermédio das redes sociais (Facebook, Youtube e Twitter) e atualização constante do site, demonstrando zelo pelos destinatários dos seus produtos, verdadeiras obras de arte.

A redução do valor inicial dos blu-rays e DVDs a níveis mais acessíveis também seria uma forma de minimizar os efeitos da crise econômica e da concorrência com outras tecnologias. As mídias podem ser complementares entre si.

Não podemos retroceder à era do VHS, num momento em que o mundo desenvolvido se adapta e dá as boas-vindas ao conteúdo em 4K. E as notícias vindas dos EUA são bem animadoras: somente nos 4 primeiros meses de lançamento do blu-ray 4K, foram vendidos naquele país mais de 230.000 discos, ao passo em que o blu-ray tradicional vendeu 57.000 unidades, no mesmo período inicial de lançamento em 2006. Hoje, 6 meses após o lançamento, já podemos contabilizar 167 edições em UHD, somente nos EUA. Ou seja, as perspectivas para o novíssimo formato são muito boas, pelo menos em relação aos EUA. Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Austrália e outros países já aderiram ao formato. Um atrativo é que o 4K não vem dividido por regiões, isto é, pode ser acessado de qualquer país do mundo. Além disso, as edições têm sido acompanhadas por disco de blu-ray e cópia digital.

Como entusiasta do formato blu-ray, este blog sugere a todos os fãs da mídia física que enviem e-mail e postem mensagens nas redes sociais das distribuidoras que atuam no país – majors e independentes - sugerindo, de forma cordial, ações que possam melhorar o mercado de BD (algumas ideias podem ser aproveitadas desta postagem, opcionalmente).

Precisamos reagir e cooperar. Todos fazemos parte de um sistema e nenhuma pessoa ou empresa sozinha tem controle de todas as variáveis. Os esforços precisam convergir para um objetivo comum: a satisfação de todos os atores participantes do processo, especialmente os cinéfilos, colecionadores e distribuidoras.

Pedir a todos os amigos, inclusive dos grupos fechados de colecionismo, para adotarem a mesma atitude – contato com as distribuidoras – também pode trazer bons resultados.

O blu-ray com o qual sonhamos também depende de nós!





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Não toleramos neste blog (nem na página do Facebook ou outra rede social) manifestações desrespeitosas, linguajar de baixo nível, demonstrações de ódio, calúnia, difamação, incitação à violência e outras práticas contrárias ao bom convívio e à legalidade. Na dúvida, favor acessar a página “termos de uso do blog”, ao final desta página, pois eventuais excessos serão excluídos da postagem.

6 comentários:

  1. ötima postagem, mas o único porém se refere a que foi dito sobre granulação. Granulação diz respeito aos critérios utilizados pelos diretor e não a mídia ser DVD ou BD. Muito filmes ainda são gravados em película, assim como podem ser gravados em formato digital e sendo uma escolha do diretor introduzir a granulação em seu filme ou não. Por esse motivo temos muitos BDs com todos os níveis de granulação. Um grande abraço!

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  2. Observações:
    1 - Era Uma Vez na América foi o primeiro lançamento da Flashstar e o primeiro projeto autorado pela Careware Multimídia no Brasil.
    2 - Ainda existem locadoras (principalmente as do interior de alguns estados) que ainda tem mais DVDs do que Blu-rays em suas prateleiras.
    3 - A Disney hoje pertence a filial brasileira da Cinecolor (uma empresa do Grupo Chilefilms.
    4 - Quero que um dia saiam os Blu-rays 4K no país. Espero que a Careware traga essa tecnologia importada lá dos Estados Unidos e, quem sabe, produza seus primeiros projetos nesse formato.

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  3. tudo é muito lindo, mas nos Eua você pode alugar Bd a 1,99 em qualquer mercado em uma máquina da REDBOX. Aqui um filme meia boca qualquer é 30 reais, enquanto um filme em DVD 3 meses depois do filme ter saido do cinema custa 20 reais... a maioria da população não está se importando muito com qualidade, o standard já tá de bom tamanho, sem falar nos downloads, streamings e pirataria vendendo dvd de 3 reais.

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